“Mais do que doar coisas é necessário doar a nós mesmos. E sem reservas!” É na doação recíproca que nasce o dom da fraternidade que se realiza quando todos os seus membros estão dispostos a fazer a difícil, mas maravilhosa, passagem da comunidade para mim ao eu para a comunidade. Inicio com a palavra do fundador Elias, porque é dessa maneira que a vida fraterna nos impulsiona a viver, “sair de mim para o outro”. Santo Agostinho descreve essa prática com a expressão “Só as pessoas dotadas de coração grande e generoso são capazes de passar pela vida oferecendo aos outros o dom da amizade. Porque são capazes de adiantar-se, manifestando sua simpatia e afeto pelos outros”. Assim se pode compreender que em nossa comunidade a Vida Fraterna é nosso tesouro e dela devemos zelar, pois é a partir dela que fazemos a experiência de Deus.
No outro está o meu campo de cultivo e a minha vida de oração. É a partir da fraternidade que fazemos grandes experiências através de pequenos gestos. Já vi muitas pessoas se emocionarem ao perceber a nossa alegria com uma doação que chega seja ela grande ou pequena, nossa vida torna-se um grande sinal de cura, não só para nós, mas para quem se aproxima. Algo bem comum durante a nossa semana agitada e cansativa é a disposição de nosso fundador “Elias” em fazer um fogo em seu fogão à lenha e ali fazer um caldo de peixe, sapecar ou cozinhar pinhão, quentão, tomar chimarrão e ali contar algumas histórias engraçadas. Mesmo diante do cansaço, esses momentos nos refazem. Durante a refeição permanecemos um pouco mais à mesa para olharmos nos olhos do outro, ouvir sua partilha, perceber o outro. Esperar com alegria quem vai chegar, escrever uma carta, cantar uma música aos que partem, preparar a cama para o outro, acordar mais cedo com o outro, antecipar-se, preparar a missa com zelo, dormir mais tarde, se preciso, para cuidar de alguém enfermo, nos dias de calor, tomar banho de balde ou de chuva. Enfim, o amor é a fonte inspiradora de todos estes pequenos gestos.
Nosso Senhor nos fala: “amai-vos uns aos outros, como eu vos amo. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá sua vida por seus amigos” (Jo 15,12-13). Mas também a regra de vida da comunidade confirma que somos chamados a dar a nossa vida pelo outro e expressar esse amor, exigindo de nós que coloquemos tudo em comum.
Nossa história, nossa vida, nossa cultura, nossos dons, nossas diferenças, fraquezas, vitórias, nossos pertences, nada é meu, tudo é nosso e precisa ser cuidado. Aqui “o colocar em comum” é dicidir-se por amar, abrir o coração para que o outro possa entrar. Pessoalmente, quando começo a meditar em toda a dimensão da vida fraterna me abrasa o coração e me emociona. Testemunho que o outro é a maior fonte de cura para mim, o abraço carinhoso do irmão é um oásis em meio à correria do dia-a-dia, o sorriso, o olhar que impulsiona e encoraja a caminhar. Confesso que não compreendo quando muitas pessoas se fecham numa vida isolada, sem ter com quem partilhar suas dores e alegrias.
Para finalizar, concluo com este ensinamento da comunidade: “A vida fraterna não é feita de heroísmo ou de grandes movimentos, mas sim de assumir na alegria as pequenas tarefas que o dia-a-dia nos apresenta”. Convido você a fazer essa experiência em sua vida!
Vanessa Nery Silvestrini Pereira – Missionária consagrada Arca da Aliança
Fonte: Revista Arca da Aliança - março 2011 - edição 04
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