Para que sofrer?
Quando nos deparamos com esta pergunta logo pensamos: será que podemos não sofrer? O sofrimento é uma característica do ser humano e que aparece muitas vezes de forma inesperada, seja através de uma doença, algum incidente ou um simples aborrecimento do dia a dia. Esses são sofrimentos inevitáveis que precisamos aprender a lidar, aceitando ou não, se houver aceitação fica menos dolorido e poderemos passar por eles sem muitos danos, porém se não aceitamos tudo fica mais difícil e dolorido.
Para enfrentar o sofrimento passamos por etapas que se iniciam com um sentimento de negação que parece não querer pensar no problema, e dizemos para nós mesmo “isso não é verdade”. Aparece um sentimento de raiva, revolta de “porque eu?, porque comigo?”. Aos poucos vamos tentando nos convencer do acontecimento e tentando um acordo conosco mesmo, com outras pessoas, com Deus. Ocorre então que tomamos consciência de que o acontecido é inevitável, vem então a tristeza, desolação, o medo que não pode ser confundido com depressão que é uma doença, e sim uma profunda tristeza que precisa ser vivida, chorada, falada e acima de tudo respeitada por nós mesmos e pelas pessoas a nossa volta. Somente após viver estes sentimentos que somos capazes de sair do sofrimento e aprender a viver com o problema ou com a perda de algo ou alguém.
O tempo todo, todos os dias da nossa vida perdemos e ganhamos, mas como nossa tendência humana é sofrer, sempre ficamos presos aos acontecimentos que nos trouxeram sofrimento. Dos momentos alegres e felizes, não conseguimos nos lembrar com frequência, mas sempre nos lembramos dos momentos de sofrimento.
Sofremos com acontecimentos grandes como morte e perdas de pessoas importantes como também por acontecimentos do dia a dia: uma “fechada” no trânsito, a roupa que você gostaria de vestir e não achou, uma crítica que recebeu de alguém, uma “birra” do filho logo de manhã, e outros acontecimentos que não têm consequência concreta em nossas vidas e mesmo assim sofremos, mesmo que por um instante.
Tente lembrar de algo do dia a dia que te causou sofrimento, nesse mesmo tempo no ano passado, possivelmente você não se lembrará. Mas provavelmente alguém ou algum fato lhe “tirou do sério”, e você sofreu por isso. Faça esse exercício e perceberá que será mais fácil para aceitarmos que não vale a pena sofrer por algo que não ameaçará ou prejudicará concretamente nossa vida.
Quando sofremos, todos nossos órgãos e sistemas funcionam mal. Sentimos espasmos cardíacos, os músculos ficam debilitados e a respiração dificultada. Interessante notar que os espasmos cardíacos (contrações repentinas do músculo cardíaco com duração e intensidade variáveis - taquicardia) nem sempre são percebidos, pois não são constantemente intensos, no entanto eles (os espasmos) estão acontecendo e nos prejudicando. Sentimos dor muscular sem motivos concretos ou um cansaço exagerado no final do dia, que podem ser consequências de sofrimentos.
Não há fórmulas prontas que sejam eficazes para lidar com o sofrimento. É preciso encontrar a medida certa entre todas as fórmulas; medida certa em que todas elas são válidas e inválidas ao mesmo tempo. A medida está em buscar dentro de nós a força de Deus que sofreu e deu sua vida por amor, que poderia ter murmurado, que poderia ter ficado preso a dor e a Cruz. Porem, ressuscitou e nos libertou da dor e do sofrimento.
O lidar com o sofrimento exige paciência e disposição para aprender; é o processo de aprendizagem mais difícil que temos à nossa frente, e ele não pode ser encurtado com nenhuma fórmula mágica.
Psicóloga Maria Lúcia Lehm
Copyright © 2024 Comunidade Católica Arca da Aliança. Todos os direitos reservados.
Navegando no site você aceite a nossa política de privacidade.