Gostaria de partilhar um pouco sobre uma busca que tem levado muitas pessoas a trilharem caminhos longos e às vezes intermináveis: A busca pela verdade. Veem-se hoje discussões em diversas áreas e sobre inúmeros assuntos que tenham por finalidade encontrar um consenso, um ponto que se possa dizer ser válido, verdadeiro. Algumas destas discussões duram séculos, como as que se referem à ontologia e à cosmologia. Nobre é esta missão de pesquisar e descobrir caminhos que nos aproximem o máximo possível da verdade. Se pensarmos a medicina logo percebemos que constantemente se atualiza, melhora, evolui. O mesmo se aplica à biologia, à educação física, à teologia, à filosofia, à psicologia, etc. Parece haver em nós uma curiosidade por encontrar a perfeição, a verdade, que nos é natural e precisa ser saciada.
Neste mês, aqui na comunidade, vivemos um tempo especial de graça em sintonia com nossa igreja, pois lembramos muito do mês voltado para as vocações e de nosso baluarte Santo Agostinho. Chamamos aqui de “o mês da vida fraterna”. Santo Agostinho (354) viveu a intensa busca pela verdade. Buscou em vários lugares, mas sempre fora de si mesmo. No momento que olha para dentro de si encontra verdadeiramente a Verdade. Encontra-se com o próprio Deus e Nele reconhece a Verdade.
Recentemente voltei de uma semana missionária onde encontramos uma comunidade católica com uma grande dificuldade em sua prática de fé, devido à influência de outras denominações religiosas. Estas afirmavam aos católicos que estavam distantes da verdade, que estavam sendo enganados, que não iriam para o céu caso não convertessem sua fé e estes facilmente mudavam para as igrejas evangélicas. Esta fala encontrou no coração daqueles católicos (que empenharam na igreja evangélica toda força de oração, fé e fidelidade que nunca empenharam na igreja católica), bem como, nos de muitos outros mundos afora, uma faísca a saciar a sede de verdade em seu interior. Isso me mostrou que eles, como você e eu, somos sedentos pela verdade. Ninguém procura ser enganado, falseado, iludido, ao menos enquanto goza de plena razão. Queremos estar próximos de algo que seja verdadeiro, necessitamos uma fé verdadeira, uma igreja verdadeira, um Deus verdadeiro, pessoas verdadeiras, líderes que nos conduzam na verdade. Este caminho é um caminho árduo e longo, embora, aos meus olhos, não tão complicado quanto a tantos possa parecer. Para Santo Agostinho foram necessários 33 anos de busca até assumir a conversão e o batismo. Mas talvez lhe fosse necessário menos tempo se no início de sua vida ele mesmo tivesse despertado à fé materna (católica) ao preferir, por livre vontade, se lançar em outros caminhos para depois regressar. Bastaria a direção dada pelo Verbo encarnado: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vai ao Pai se não por mim” (Jo 14,6). O próprio Cristo se revela a nós como a Verdade. Deus, na figura da Trindade nos permite conhecer a verdade. Por isso somos convidados a invocar sobre nós três dos sete dons do Espírito Santo de forma especial: Sabedoria, Inteligência e Ciência. Estes nos conduzem a conhecer Deus, a Verdade. Não basta clamar estes dons sem que, em sincronia com eles, sejamos capazes de praticar a virtude do discernimento.
Parece-me natural que ao buscar algo eu vá ao lugar onde sei que encontrarei. Suponhamos que eu queira comprar pães e vá a uma oficina mecânica e obviamente ali não encontrarei pães para vender. Mas não satisfeito continuo minha busca. Entro então em uma loja de eletrônicos e ali também não encontro. Seguiria passando de loja em loja até que não me restasse opção a não ser entrar em uma padaria. Por vezes é assim que somos conduzidos. Buscamos a verdade em vários lugares onde ela não está! Inclusive vivendo uma vida de mentiras e falsidade. Uma vida sem identidade, que em seu exterior parece perfeita, mas que no interior, para muitas pessoas, leva inclusive ao desejo de suicídio, por não viver a verdade e sim, a mentira, a falsidade. Ao buscar a verdade buscamos o próprio Deus. Ao desejar satisfazer os desejos do corpo é necessário encontrar os desejos da alma. E estes só podem ser encontrados olhando para dentro de nós mesmos. O desejo de busca pela verdade, embora camuflado muitas vezes em apetites carnais ou prazeres, deve nos levar ao lugar onde podemos encontrar a Verdade e não para fora dela como se tornou natural fazer. O Salmo 41 expressa o desejo escondido em nossa alma quando diz “minha alma tem sede de Deus e deseja o Deus vivo”. Dizia Santa Tereza Benedita da Cruz (Edith Stein): “Quem procura a verdade, consciente ou inconscientemente, procura a Deus”.
Busquemos a verdade de nossas vidas, como o fez Santo Agostinho, Santa Tereza Benedita da Cruz e tantos outros santos e santas, inclusive dos dias de hoje, olhando para dentro de nós mesmos, a fim de encontrar as nossas próprias verdades, e nelas descobrir a Verdade Suprema. Que Deus nos dê a graça de saciar a sede de nossa alma!
Dair José Kunz – Missionário Consagrado Arca da Aliança
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