Amar e ser amado!
"Havia outras atrações que me prendiam o espírito: as conversas e risadas em comum, a troca de afetuosas gentilezas, a leitura em comum de livros agradáveis, o desempenho de tarefas em conjunto, ora insignificantes ora importantes, contradições passageiras, sem rancor, como acontece a cada um até consigo mesmo, e com tais contradições, assim mesmo bastante raras, tornar mais agradável a habitual concordância de pontos de vista, o ensino recíproco de novidades, o sentir intensamente a nostalgia dos ausentes e o alegre acolhimento no retorno. Estes e outros sinais semelhantes, que brotavam de corações que amam e se sentem amados, e que se manifestam no procedimento, nas palavras, no olhar e em mil gestos de agradecimento, como centelhas que inflamam muitos corações e deles fazem um só." (Das Confissões de Santo Agostinho)
A amizade se caracteriza pela experiência do amor, partilhado, construído e identificado. Em uma sociedade doente em seus afetos podemos banalizar o amor puro e real de uma amizade. Clamamos pelo amor e quantas vezes não conseguimos alcançá-lo, talvez por o buscarmos de formas indevidas, perdemos a oportunidade de vivê-lo na leveza e simplicidade de que as coisas puras e reais da vida nos apresentam. Com uma boa dose de atenção e sensibilidade, podemos sim descobrir ou redescobrir o quão importante é a amizade para o coração que se deixou tocar pela presença de um amigo.
É impossível não encantar-se com as palavras de santo Agostinho citadas no inicio do texto, é impossível não identificar-se ou até mesmo desejar que essa experiência faça parte da própria vida. Vida esta que descobre sua plenitude, no pertencer e nesta dinâmica simples pelos atos e grandiosa por seu efeito entender que nada somos nesta vida sem a alegria de partilhar o que somos.
Mas, quem é meu amigo? Eu aqui recordo de muitos que com alegria dedico este nome e que assim os experimento como centelhas que inflamam meus dias, minha vida. Agostinho com sua forma veemente de expressar o Amor, também nos faz entender que a amizade é própria da vida ordinária e ela é construída com aqueles que caminham conosco e um possível elo a ser selado seja com um irmão, a esposa, um namorado, companheiros de trabalho e porque não um vizinho, ou aquela pessoa que a uma altura da vida encontramos e hoje já nos pertencemos. O fundamento de toda boa relação é a amizade e não o foi diferente com Jesus, “Já não vos chamo de servos porque o servo não sabe o que faz o seu Senhor. Eu vos chamo amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai.” (Jo 15,15)
Acreditar no dom da amizade é crer no amor generoso e gratuito que expressam duas almas que se encontram, em suas afinidades ou não, é uma experiência mística sim, pois exige de ambos confiança, liberdade, sacrifício, silêncio, palavra e muita simplicidade. Os verdadeiros amigos crescem, se formam, corrigem-se. A amizade é manifestação de Deus.
Vivemos em tempos que priorizamos em demasia as coisas que precisamos fazer, embora desejemos relacionamentos profundos, por ora esquecemos que o cultivo é parte integrante deste processo. Reconhecer os amigos, zelar por eles, manifestar nosso amor não é sinal de carência ou dependência, mas sim é experiência real dos que fazem de uma boa amizade um espaço de cura para si, para o outro e para a humanidade.
Daniele Caroline dos Santos
Missionária Consagrada Arca da Aliança
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