Culpa... Caminho de mudança
Nestes últimos tempos tenho percebido que muitas pessoas vivem atormentadas com alguns sentimentos que vão crescendo e tomando conta de seus pensamentos, como a raiva, tristeza, inveja, ciúmes, mas um sentimento que mais me chama atenção é o sentimento da culpa.
A culpa pode agir na vida do ser humano de várias maneiras, pode ser positiva ou negativa dependendo dos valores e do julgamento recebidos desde o seio familiar. Quando negativa, a culpa vem crescendo no decorrer da história da pessoa como uma ferida que, se não for tratada, vai ficando maior e mais profunda. Nos dias de hoje o sentimento de culpa leva muitas pessoas a desenvolver a depressão, pois lidam com ela de forma negativa.
O processo de desenvolvimento humano passa por fases que vêm desde a infância, adolescência, idade adulta e velhice e, para cada fase, a pessoa tem uma consciência atual que é própria do tempo em que vive. Uma pessoa que viveu em 1950 pensa e tem uma consciência e valores completamente diferentes de uma que vive em 2020. Esta diferença está na forma de agir e de lidar com situações que estão enraizadas em nosso ser. Algumas pessoas vivem atormentadas com situações vividas durante a infância e adolescência com os pais e irmãos. Pais vivem se sentindo culpados por não terem educado melhor seus filhos, e assim por diante. É preciso reconhecer e olhar para a nossa história e perceber que a consciência era diferente de muitas atitudes e pensamentos que hoje temos em relação a nossa vida. Não cabe hoje julgar as atitudes de quem quer que seja, de fatos passados com a consciência e os valores de agora. Muito menos nos culpar ou culpar alguém de acontecimentos e atitudes pelas quais não se tinha condições de fazer diferente.
A vida é feita de escolhas e elas são feitas de acordo com a consciência atual, isto quer dizer que o que escolhemos hoje podemos nos arrepender amanhã, porém precisamos viver a cada dia, e as decisões tomadas hoje não são as mesmas de amanhã.
A culpa é uma falta voluntária contra a moral, mas não intencional, ou seja, sabemos o que estamos fazendo, mas sem intenção de errar.
Para viver a culpa de forma positiva o ser humano precisa reconhecer que estes sentimentos estão em cada um, que ninguém é perfeito, que somos seres vulneráveis, limitados e que podemos falhar.
Os sentimentos não podem ser controlados, mas as reações podem. Reações não são sentimentos e sim uma decisão.
A decisão de olhar a culpa como um sentimento que pode servir de impulso para mudanças de atitudes, de conceitos e valores morais, possibilita ao ser humano viver com dignidade e paz interior. A decisão de aceitar a si mesmo, seus limites e reconhecer seus erros leva a pessoa a experimentar o grande milagre do perdão. Ninguém pode mudar o passado, pode vê-lo de forma diferente, pois o que mais incomoda o homem não é o que acontece, mas o modo de ver o que acontece, não é o fato em si, mas a forma como se interpreta.
Quando o ser humano entende suas imperfeições e as reconhece fica mais fácil lidar com a culpa, permitindo a si mesmo limpar a ferida emocional e dando início a sua cura.
Aprender a conviver com a culpa proporciona ao ser humano a grande oportunidade de se perdoar e ser perdoado.
Podemos nos sentir culpados em muitos momentos de nossa vida, como filhos, como mãe, como esposa ou esposo, assim com podemos também culpar muitas pessoas por ações que nos magoaram profundamente. Porém, se olharmos para nós como pessoa, não podemos fazer como os fariseus e os escribas que julgaram e condenaram a mulher adúltera, pois como está no evangelho segundo João 8,7 "Quem de vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra". A grandeza do ser humano está na humildade de saber que é limitado.
Psicóloga Maria Lúcia Lehm
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