A cena da visitação de Maria, tão celebrada por nós católicos, é fonte de muita riqueza espiritual, de modo que quanto mais meditamos, falamos, rezamos com esse texto, mais ele nos fala, nos ensina, nos forma. É algo que nunca se esgota. Há sempre uma graça nova escondida nesta leitura.
Admiro-me da decisão de Maria em “levantar-se” como diz a Palavra, e “às pressas” subir a cidade de Judá para visitar sua prima Isabel. Ora, havia tantas outras coisas para se preocupar, tantas coisas por definir, tantas coisas a enfrentar. Como falar com José? Como convencê-lo de que a gravidez é obra do Espírito? E o que diriam as pessoas, a aldeia, os sacerdotes? De repente, sou Mãe? Onde moraremos? E os meus pais, como não expô-los? Como tudo se resolveria? Era uma situação tão delicada, que o medo poderia muito bem ter paralisado Maria. Mas, ao contrário, nós a vemos no Evangelho em pleno movimento, servindo. Em casa de Isabel, nos três meses que esteve com ela, Nossa Senhora viveu a Espera e a Formação.
Ela esperou no seu Deus. Partiu para cuidar de quem necessitava de seus cuidados, abandonando tudo o que ainda precisava ser resolvido e que, aos olhos humanos, nem mesmo havia solução. Para Maria, Isabel precisava muito mais do que ela! Como poderia ela, ficar parada em casa, olhando para sua situação, enquanto havia alguém do qual ela lhe poderia ser útil? Ela deixou “o seu impossível” nas mãos do “Deus do impossível” e foi servir. Saiu de cena, da sua casa, do seu conforto, dos seus problemas. Saiu de si! E vejam só, Deus fez! Deus revelou e convenceu José do seu plano de salvação sem que Maria precisasse dizer uma palavra! Ela saiu a caminho de Judá com tudo por resolver, e quando voltou, estava tudo pronto. Deus fez! Deus fez porque ela soube esperar em Deus. Não se precipitou, nem se desesperou, não perdeu a fé, não entrou em crise, não voltou atrás. Ela confiou e esperou!
E, ao esperar, foi também formada. Sim, Maria foi formada no tempo que estava com Isabel. Naquela época, uma menina era educada para casar desde novinha, e ela estava neste caminho de preparação para o matrimonio com José. O que ela não fazia ideia é que seria Mãe tão cedo! Acompanhar a gestação de Isabel a formou para ser Mãe. Quem sabe ela não precisava assistir o parto de Isabel, para depois viver o seu parto, sozinha, na estrebaria, sem ninguém para ajudar? Com Isabel, Maria foi formada ainda mais para assumir sua missão. No propósito de Deus para as nossas vidas, há também um caminho de formação. Naquilo que ele nos confia, ele nos capacita. Isabel era uma anciã, cheia de sabedoria, esposa de um sacerdote, conhecia as leis, conhecia da vida! Eu imagino as conversas de Maria e Isabel nesses três meses em que estiveram juntas... quanta riqueza, quanto aprendizado, quanta partilha! Na espera, somos formados. Três meses de espera que talvez tenham sustentado, mais tarde, 33 anos de vida oculta, de espera pela revelação e pela vida pública de Jesus.
Que Nossa Senhora nos ajude a compreender que Deus gosta de se ocupar com aqueles que não se ocupam consigo mesmos. Que é necessário muitas vezes ir à missão, subir as montanhas em busca dos que sofrem deixando espaço para Deus fazer em nossas vidas. Que há muita riqueza no caminho da espera, tesouros que só encontram aqueles que se desafiam a viver com coragem um ato de fé! Que vale a pena largar nossos esquemas, nossas vontades, nosso jeito, para viver o “jeito de Deus”, para deixar Deus fazer por nós e para nós. Que ela nos ajude a reconhecer a nossa vida nos mistérios da sua própria vida. Amém!
Leila Rubia Parma - Consagrada Missionária Arca da Aliança
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