Reparadores de brechas

O mês de Junho a Igreja dedica ao Sagrado Coração de Jesus, este Coração que bate forte de amor por mim, por você e por toda a humanidade.

Celebrar o Coração de Jesus é celebrar um Deus que se encarnou, que se tornou humano e que tem coração. Um Coração que é fonte de todos os milagres e prodígios.

A espiritualidade do Coração de Jesus está presente no Carisma Arca da Aliança, nós nascemos à sombra dessa espiritualidade.  Diácono Elias, nosso fundador, conta que, frequentemente ia ao Santuário do Sagrado Coração de Jesus (Joinville/SC) rezar, seu grupo de oração foi naquele lugar. E ali mesmo nasce essa devoção ao Coração de Jesus. Também muito influenciada por Padre Aloísio Boeing scj, padre que acompanhou a Comunidade em sua fundação até seus últimos dias de vida, quando ele passa para a eternidade.

E uma das dimensões da espiritualidade do Coração de Jesus que está muito presente na Comunidade é o sentido da reparação ao Seu Coração. Há várias vertentes da espiritualidade do Coração de Jesus, mas para nós a reparação é a que está presente no nosso modo de viver e que faz parte do Carisma da Arca da Aliança.

No artigo 34 dos Nossos Estatutos diz que “Um coração consagrado na Comunidade deve ser ao mesmo tempo sinônimo de um coração eucarístico que se oferece livre e diariamente em reparação, por si mesmo e pelos pecadores, na intensão, na palavra e na ação”. Um coração consagrado, um coração que vive a espiritualidade do Coração de Jesus é sinônimo de um coração que sabe se ofertar, se entregar.

Quando falamos de reparação, precisamos entender seu conceito. REPARAR. Pode nos trazer a ideia de reparar a roupa do outro, reparar o jeito do outro viver, reparar a vida dos outros. Esse reparar é nocivo, não serve. Mas o reparar que se trata aqui quando falamos do Coração de Jesus é reparar pelo outro, é me colocar no lugar do outro.

Podemos entender esse sentido da reparação quando olhamos para o sacramento da reconciliação, quando eu, como pecador, reconheço o meu pecado, me arrependo dele e tenho um propósito de emenda, de mudança de vida. Então vou para a fila da confissão, me confesso, confesso aquele pecado cometido contra alguém, o padre me perdoa, porém aquele pecado precisa ser reparado. Por exemplo, eu feri alguém e sei que aquela pessoa ficou muito magoada comigo, eu preciso reparar pedindo perdão para ela. Ou se eu roubei algo de alguém, ou enganei alguém, ou passei com meu carro e bati no carro de outra pessoa que estava parado, mas na hora fugi e depois me arrependi, percebi que minha atitude estava errada, então vou me confessar. Mas mesmo que me confesse ainda não fico bem, preciso procurar aquela pessoa e reparar o dano que eu causei, materialmente falando. A reparação é isso, é reparar, é dar de volta.

Agora quando se trata do Coração de Jesus, o próprio Estatuto vai nos dizer que um coração consagrado é aquele que se oferece diariamente, livremente, que se dá, por si mesmo, pelos seus pecados, reparando as coisas erradas que cometeu ao longo da vida, coisas que não teve antes a consciência e o arrependimento por serem erradas. Às vezes tardiamente um encontro com Deus trouxe essa consciência, e aí eu posso oferecer a vida em reparação. De que modo?

Através da palavra, da minha intenção, das minhas atitudes. E também posso oferecer pelo outro. Às vezes eu sei que alguém cometeu um pecado grave e posso me oferecer por ele, através de pequenos exercícios espirituais, como um jejum. Por exemplo: Senhor eu quero te oferecer esse jejum pela conversão do meu pai, pela conversão do meu esposo. Eu me coloco na brecha do teu coração Senhor, em reparação por aqueles que cometem o pecado. Colocar-me na brecha a fim de justificar o outro.

Há uma santa que nos ensina muito sobre a reparação, que é Santa Terezinha.  Ela tem a consciência de que, qualquer ato feito com amor, é capaz de reparar o pecado e salvar a alma. Terezinha tem essa ideia. E há um fato que conta que ela soube que havia um ladrão na sua cidade, que cometeu um erro e que seria enforcado. Ela viu isso no jornal e se sentiu incomodada. Diante disso ela fez um propósito, de oferecer sacrifícios pela salvação daquele homem. Então fez mortificações, jejuns e exercícios espirituais focando na salvação daquele homem.

Sempre que havia um enforcamento o padre era chamado para ouvir a confissão daquela pessoa, para que tivesse toda a assistência espiritual, já que seu crime seria pago com a vida. Mas o homem não aceitou confessar-se. Então Terezinha firmou seu propósito de salvar aquela alma. Quando chega o momento do enforcamento, o condenado chama o padre, pede um crucifixo e o beija. E Terezinha entende que aquele gesto significa que Deus acolheu seu sacrifício, e o seu sacrifício foi o material necessário para que o coração daquele homem amolecesse para aceitar a penitência, para aceitar a salvação e, consequentemente, entrar no céu.

Então, o que significa ser um reparador? É oferecer pequenos atos, talvez por palavras. Como? Pela palavra posso justificar o outro. Sabe quando todos condenam alguém por um pecado? Eu posso justificá-lo. Dizendo que ele é inocente? Não. Não é esse o sentido. Ou talvez sim, se eu o conheço e sei que não é capaz de tal ato. Ou, conhecendo sua história posso justificá-lo dizendo que, com tais experiências negativas em sua vida, não conseguiria agir de outra forma.

Posso também ser um reparador na intenção, através dos sacrifícios diários, vou deixar de comer carne, vou abrir mão da minha vontade, mortificar meus instintos pela salvação daquela alma ou por aquela situação.

E pela ação, com atos, indo ao encontro do outro, oferecendo uma caridade, fazendo o bem em reparação pela vida do outro. E com isso vamos amando o Coração de Jesus.

Há aquela oração que o anjo ensina aos Pastorinhos em Fátima “Meu Deus, eu vos amo, eu vos adoro, eu vos bendigo. Peço-vos perdão por aqueles que não vos amam, não vos adoram, não vos bendizem e não creem em Vós.” É colocar-se no lugar do outro e assumir a responsabilidade pelo seu pecado.

Reparar é nos tornar aquilo que devemos ser. Ser Cristo no mundo. Porque Cristo é o Grande reparador. Ele assume a nossa humanidade para reparar o pecado cometido, porque o crime cometido por Adão e Eva era um crime que exigia uma reparação à altura, e só um homem-Deus poderia reparar o crime da humanidade, justificando-a e dando direito de novo à amizade com Deus e a condição de salvação.

Então, ser um reparador nada mais é do que viver aquilo que rezamos ao longo de toda a nossa vida e, mais intensamente no mês de junho, quando dizemos: “Jesus manso e humilde de coração, fazei o nosso coração semelhante ao Vosso e ensinai-nos a viver a misericórdia e a reparação”.

E que assim Deus nos dê a graça de, como Santa Catarina de Sena falava “Sermos no mundo aquilo que devemos ser”. Sermos reparadores, sermos almas, pessoas que se oferecem a Deus em reparação pelos pecados cometidos pela humanidade. Que Deus nos dê essa graça. Que você e eu possamos ser no mundo um sinal da Presença de Deus, reparando o Coração de Jesus dos pecados cometidos pela humanidade. Que haja em nós esse desejo de sermos reparadores de brechas, como Cristo o é.

Diácono Sandro Quintino

Missionário Consagrado Arca da Aliança