Tentação
Nossa tendência para o mal, apetite e desejo do mal, atração e sedução para o mal, chamamos de tentação. Teologicamente a tentação tem o nome de concupiscência. Tentação não é pecado, não tem conotação moral. Uma coisa é sentir, outra coisa é consentir. A tentação está no nível do sentir, o pecado está no querer, cair, optar, decidir. "Não nos deixeis cair em tentação". É um pedido em favor da prudência, do bom senso, do discernimento e da força de vontade para vencer o mal.
A primeira tentação humana é a divinização. Não aceitar ser criatura. Colocar-se na estatura da divindade, ocupar o lugar de Deus e decidir sobre o bem e o mal. É a rejeição de Deus. Jesus foi tentado e venceu as tentações com a oração, a Palavra de Deus, o jejum e o Espírito Santo. As três tentações vencidas por Jesus são nossas tentações de cada dia: os ídolos do ter, do poder e do prazer desordenado.
As tentações sempre aparecem em forma de luz, de bem, de atração, de satisfação, de vantagem. Caímos assim na ilusão, na decepção, no engano. Somos tentados em nossos pontos fracos, nossas feridas. Daí a necessidade de cura, de equilíbrio humano. Somos também tentados a partir de nossos dons, através da exibição, competição, autopromoção. A tentação gosta de atuar no segredo, no escondido, na camuflagem. Com boas leituras, conscientização e direção espiritual, podemos desvelar as artimanhas das tentações.
A vontade fraca, as ocasiões de pecado, a falta de oração, os desequilíbrios psíquicos são terrenos férteis para a tentação se manifestar. São João salienta a tentação da carne, dos olhos e das riquezas (IJo 2,16) Em nossas palavras traduzimos por: sexo, dinheiro e poder. O famoso estadista americano H. Kissinger dizia: "O poder é o supremo afrodisíaco".
Há tentações que merecem nossa atenção por serem muito perversas. Eis algumas delas: mudar o mal em bem e o bem em mal. Não ter esperança na salvação. Achar que tudo é ilusão, mentira, engano. Há ainda a tentação de sentir-se inútil, estorvo, mais o desejo de morrer. A tendência para o suicídio. Mais ainda, a justificação do mal e convivência com o mal. Fazer gozação dos que praticam o bem e gabando-se do próprio mal.
Uma tentação muito comum é a de alguém sentir-se feliz no mal, aprová-lo, divulgá-lo e, por outro lado, ter repugnância pelo bem, rejeitar e abandonar o bem, desprezando os que o praticam. A espiritualidade cristã conta com a experiência da noite escura dos sentidos e do espírito, na qual a pessoa devota cai no vazio, na perda da fé, na sensação de inutilidade, na expectativa da condenação, na crença que tudo é ilusão e engano, na ausência de Deus. São tentações purificadoras, superadas pela oração, pela paciência, pela direção espiritual, por um grande abandono em Deus.
Jesus alertou que os olhos, as mãos e os pés são pontos fracos, através dos quais somos tentados. Só com a renúncia podemos nos libertar das escravidões provenientes das tentações. Vencer as tentações redunda na liberdade frente às escravidões, no crescimento da comunidade e no desenvolvimento da sociedade.
Dom Orlando Brandes – Arcebispo de Londrina
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